terça-feira, 26 de dezembro de 2023

WALTER D. MIGNOLO , RITA SEGATO , CATHERINE E. WALSH EDITAM ANÍBAL QUIJANO


Livro: Aníbal Quijano - Foundational Essays on the Coloniality of Power

(Aníbal Quijano - Ensaios Fundamentais sobre a Colonialidade do Poder)

Páginas: 480

Data de lançamento: 5 de abril de 2024

Autor: Aníbal Quijano

Editores: Walter D. Mignolo , Rita Segato , Catherine E. Walsh


O sociólogo peruano Aníbal Quijano é amplamente considerado uma figura fundadora da perspectiva decolonial baseada em três conceitos básicos: colonialidade, colonialidade do poder e matriz colonial de poder. As suas teorizações descoloniais destes três conceitos transformaram os princípios e pressupostos da própria ideia de conhecimento, impactaram as ciências sociais e humanas e questionaram o mito da racionalidade nas ciências naturais. Os ensaios deste volume abrangem quase trinta anos de trabalho de Quijano, trazendo-os pela primeira vez a um público leitor inglês. Este volume não é simplesmente uma introdução à obra de Quijano; atinge um de seus objetivos não alcançados: escrever um livro que contenha suas principais hipóteses, conceitos e argumentos. Nesse sentido, a coleção incentiva uma compreensão mais plena e uma implementação mais ampla das análises e conceitos que desenvolveu ao longo de sua longa carreira. Além disso, demonstra que as ferramentas para ler e desmantelar a colonialidade tiveram origem fora da academia, na América Latina e no antigo Terceiro Mundo.


Como autor que cunhou o conceito amplamente utilizado de 'colonialidade', é urgente que as obras de Aníbal Quijano estejam disponíveis em inglês. A sua obra é essencial para o estudo das culturas e sociedades coloniais e também para a análise da contemporaneidade, marcada pela perpetuação de sistemas coloniais de dominação. Este livro enriquecerá e promoverá não apenas os estudos latino-americanos, mas também a sociologia, a ciência política, a antropologia, os estudos raciais e étnicos e as humanidades de forma mais ampla.” — Mabel Moraña, autora de Filosofia e Crítica na América Latina: De Mariátegui a Sloterdijk


Aníbal Quijano analisa as ausências causadas pelo eurocentrismo na compreensão da América Latina e do Caribe e mostra como a colonialidade do poder fragilizou nossos Estados-nação ao impor a raça desde o início para nos classificar, dominar e explorar. Assim, o fortalecimento das nossas identidades nacionais torna-se indispensável para impedir a erosão dos nossos Estados e para afastar as ameaças do bloco imperial, liderado pelos Estados Unidos, contra a vida no planeta Terra.” — Jean Casimir, autor de Os Haitianos: Uma História Decolonial


Biografias:


- Aníbal Quijano (1928–2018) foi um renomado sociólogo e teórico peruano e autor de vários livros.

- Walter D. Mignolo é William H. Wannamaker Distinguished Emérito Professor de Estudos Românicos e Professor de Literatura na Duke University.

- Rita Segato é Professora Emérita em Bioética e Direitos Humanos da Universidade de Brasília.

- Catherine E. Walsh é Professora Emérita da Universidade Andina Simón Bolívar.


Índice

Introdução / Catherine E. Walsh, Walter D. Mignolo e Rita Segato 1

1. Paradoxos da Modernidade na América Latina 32

2. A Estética da Utopia 64

3. Colonialidade e Modernidade/Racionalidade 73

4. Questionando a “Raça” 85

5. Colonialidade do Poder e Classificação Social 95

6. O Retorno do Futuro e Questões sobre o Conhecimento 132

7. Colonialidade do Poder, Globalização e Democracia 146

8. O Novo Imaginário Anticapitalista 188 9.

Dom Quixote e os Moinhos de Vento na América Latina 204

10. O “Movimento Indígena” e questões não resolvidas na América Latina 229

11. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina 256

12. Colonialidade do poder e des/colonialidade do poder 303

13. Trinta anos depois: outra reunião: notas para outro debate 317

14 A crise do horizonte de sentido colonial/moderno/eurocêntrico 331

15. América Latina: rumo a um novo sentido histórico 347

16. Colonialidade de poder e subjetividade na América Latina 361

17. “Bien Vivir”: entre o “desenvolvimento” e o De /Colonialidade do Poder 379

18. Trabalho 392

19. Notas sobre a Descolonialidade do Poder 411

20. Modernidade, Capital e América Latina Nasceram no Mesmo Dia: Entrevista de Nora Velarde 418

Bibliografia 443



domingo, 19 de fevereiro de 2023

A GUERRA ESQUECIDA: os Anaió e os colonizadores na Guerra dos Bárbaros no Sertão do Rio São Francisco entre 1684 e 1688 (Artigo Científico)


Autor: Paulo Robério Ferreira Silva (
Doutorando PPGDS/Unimontes).


Resumo: A “guerra esquecida” foi uma etapa da Guerra dos Bárbaros que passou despercebida da historiografia até o início do século XXI. Nos Sertões do Rio São Francisco, próximo, ao Sul, aos Rios Verde e Carinhanha, digladiaram, entre 1684 e 1688, os povos nativos Anaió e as tropas comandadas pelo paulista Matias Cardoso de Almeida e pelo baiano Marcelino Coelho. Além de contribuir para justificar que as Guerras do São Francisco – a outra ocorreu na segunda metade da década de 1670 também entre Anaió e colonizadores – não faziam parte das Guerras do Recôncavo, como aceito por alguns historiadores, os efeitos dessa contenda lançam luzes sobre com os povos nativos, para além da violência do extermínio, também participaram da emergência do povo brasileiro que surgiu com a colonização.

Palavras-chave: Guerra dos Bárbaros. Anaió. Colonizadores luso-brasileiros. Matias Cardoso. Sertão do Rio São Francisco.


SILVA, Paulo Robério Ferreira. - A Guerra Esquecida: os Anaió e os colonizadores na Guerra dos Bárbaros, no Sertão do Rio São Francisco, entre 1684 e 1688. Revista Faces da História. V. 8, n. 1, p. 264-282, jun., 2021.

Disponível em: <https://seer.assis.unesp.br/index.php/facesdahistoria/article/view/1938/1794>.


Leia e/ou baixe o artigo completo no site da Revista Faces da História:

https://seer.assis.unesp.br/index.php/facesdahistoria/article/view/1938/1794






sábado, 18 de fevereiro de 2023

INVENÇÃO DA SUBALTERNIDADE: o não colonizado em representações dos tapuias produzidas por padres e cronistas do século XVI no Brasil (Artigo Científico)


Autores: Paulo Robério Ferreira Silva & João Batista de Almeida Costa


RESUMO: Tapuia foi um termo pejorativo, utilizado largamente no período colonial para designar, primeiramente, os povos nativos do tronco etno-linguístico Macro-Jê. Também foi apropriado pelo colonizador, e significou “o bárbaro mais bárbaro que o bárbaro”. O objetivo deste artigo é discutir a “invenção da subalternidade” a partir da tensão entre o colonizador e os povos colonizáveis e não colonizáveis (os tapuias). Metodologicamente, a partir de cartas de padres jesuítas do século XVI e de relatos de cronistas dos séculos XV e XVI, suportados por uma revisão de literatura pertinente à investigação, primeiro é discutido a subalternidade como uma ideologia que nasce com a colonialidade e a modernidade nos processos de colonização deste continente e que funciona como operacionalizadora destas duas últimas. Daí emergem tanto a alteridade, materializada na figura do Outro, com a sua impossibilidade, manifestada no Outro em si-mesmo; em seguida, são analisados alguns importantes aspectos das representações dos tapuias feitas pelo padre João de Aspilcueta Navarro. Tais representações reverberariam posteriormente entre outros cronistas; e por fim, as ideologias da subalternidade, da colonialidade e da modernidade são analisadas na perspectiva da realização do próprio processo colonizador. O substrato teórico desta discussão é o padrão colonial/moderno de poder no bojo do sistema-mundo colonial/moderno. Desse modo, a “conquista” pela arma e pela cruz, não restringe-se ao período colonial, mas funda um sistema de domínio que chega, ainda com grande vigor, em nossos dias.

Palavras-Chave: Subalternidade; Representações; Tapuias; Não colonizados.

SILVA, Paulo Robério Ferreira; COSTA, João Batista de Almeida. INVENÇÃO DA SUBALTERNIDADE: o não colonizado em representações dos tapuias produzidas por padres e cronistas do século XVI no Brasil. REVISTA LATINO-AMERICANA DE ESTUDOS EM CULTURA E SOCIEDADE. V. 07, nº 01, jan.-abr., 2021.


Leia o artigo completo na REVISTA LATINO-AMERICANA DE ESTUDOS EM CULTURA E SOCIEDADE em: https://periodicos.claec.org/index.php/relacult/article/view/2177/1449


Imagem: Homem Tarairiú. Pintura do século XVII do holandês, Albert Eckhout.


Prof. Doutorando Paulo Robério participa das "Aulas Inaugurais do Olegário 2023"


A E. E. Presidente Olegário Maciel, em Manga, MG, com objetivo de resgatar a importância da Escola pública na formação de crianças, jovens e adultos, realizou nas primeiras semanas de fevereiro do corrente ano, uma série de Aulas Inaugurais. As mesmas foram organizadas de forma inter e transdisciplinar a partir de quatro áreas de conhecimento: Ciências Humanas e Sociais; Ciências da Natureza; Matemática e Linguagens. Em cada área Professores/as apresentaram suas disciplinas, além de um tema comum a todas.


O Prof. Doutorando Paulo Robério Ferreira Silva destacou a História pela perspectiva do estudo dos seres humanos em suas intra e inter-relações, bem como em suas dinâmicas no tempo (passado, presente e futuro) e no espaço.


Umas das reflexões realizadas foi sobre a importância da “consciência histórica” para lidar com as demandas contemporâneas de uma sociedade em transformação radical, em que o virtual avança com sobre o concreto, modificando intensamente as subjetividades e, em corolário, as formas como nos organizamos em sociedade.


Na discussão específica, o Prof. Doutorando Paulo Robério, enfatizou o racismo como o eixo constituidor da sociedade brasileira. Mostrou ainda alguns aspectos que relacionam o racismo científico, criado no século XIX, com as lutas atuais para a superação deste fenômeno que violenta cotidianamente milhões de brasileiros.


Por fim, disse dos avanços promovidos pelos movimentos negros e dos povos nativos ao ocupar espaços políticos, econômicos, simbólicos, religiosos, do conhecimento e outros, além de convidar à reflexão a partir de Jessé Souza:


A aceitação da própria inferioridade pelo oprimido é o fundamento central e mais importante de todo tipo de dominação estável que tenha existido na história humana.”

(Jessé Souza em “O racismo criou o Brasil”, p. 23, 2021).




domingo, 9 de dezembro de 2018

Jovens cientistas do Portela (Manga) discutem “conhecimento escolar” e “conhecimento comunitário”

O ano de 2018, embora severamente marcado por uma danosa crise político-econômico-social que põe em xeque até mesmo o funcionamento da Escola pública, tem se caracterizado como um marco para a E.E. Ministro Petrônio Portela de Manga. Isto porque vem sendo desenvolvido um importante projeto de iniciação científica para alunos daquela Escola resultado de iniciativa da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG) por meio do Núcleo de Pesquisa e Estudos Africanos, Afrobrasileiros e da Diáspora (UBUNTU/NUPEAAS), com apoio da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).

O projeto de iniciação científica para educandos do Ensino Médio intitulado “Caçadores de Conhecimento” (anteriormente: Africanidades) tem como objetivo investigar qual a relação dos “conhecimentos comunitários” das comunidades de Espinho e Malhadinha, localizadas no município de Manga, e o “conhecimento escolar” oferecido pelo Portela.

Conforme o Prof. Mestre Paulo Robério F. Silva, orientador e responsável pelo referido projeto, “para além de reproduzir os interesses da ordem dominante, que nos últimos séculos é caracterizado pelo domínio das doutrinas liberais, e da condição de também ser lócus de resistência a este domínio, como mostra Saviani (2012), a Escola promove, por meio do conhecimento escolar, importantes diálogos com outros saberes. O seu caráter hegemônico é colocado em xeque neste diálogo extramuros, em que as demandas do mundo real de cada grupo humano exige a (re)invenção de saberes que sejam minimamente adequados para lidar com as exigências de uma sociedade que, em linhas gerais, se complexifica paulatinamente e em, cada vez, maior intensidade (SANTOS, 2015). Por isso que, neste estudo, pretende-se apresentar algumas considerações sobre o diálogo entre o “conhecimento escolar” oferecido pela E.E. Ministro Petrônio Portela de Manga, MG e os “conhecimentos comunitários” das comunidades de Espinho e Malhadinha, localizadas no mesmo município e que há algumas décadas possui alunos estudando na referida Escola”.

Algumas etapas da investigação vêm sendo desenvolvidas, a exemplo da realização de mini-cursos sobre produção científica, pesquisa de campo, discussões quanto aos parâmetros de pesquisa, produção de textos, elaboração de relatórios e estudos bibliográficos.

Ao final do período de investigação, além de contribuir para que educandos do Ensino Médio possam se aproximar da produção do conhecimento científico, fundamental para a vida em sociedades moderas, espera-se responder à demanda da pesquisa, ou seja, “em que medida o “conhecimento escolar” é reconhecido e utilizado por estudantes e moradores das referidas comunidades?”

*Imagem (no topo) dos jovens cientistas do Portela em evento realizado no dia 20 de novembro de 2018 em homenagem ao dia da Consciência Negra em Januária, MG.

Referências

SANTOS, Laymert. Educação desculturalizada. Página do autor, 2015. Disponível em: <https://www.laymert.com.br/educacao-desculturalizada/>. Acesso em: 02 dez. 2018.

SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia. 42ª. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2012.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

RELAÇÕES RACIAIS É TEMA DE PALESTRA DO PROF. MESTRE PAULO ROBÉRIO F. SILVA

Embora a sociedade brasileira resulte do caldeamento de diversos e diferentes grupos étnicos, tanto de origem autóctone, como europeia e africana, resultando com isso numa mistura impar na história da humanidade, o tema relações raciais ainda é de difícil trânsito nas instituições que dão forma a este país, até mesmo nas Escolas. Nesta quinta-feira, 23 de novembro de 2017, a E.E. Presidente Olegário Maciel promoveu, como evento da Semana de Educação para a Vida, uma importante palestra com o Prof. Mestre Paulo Robério F. Silva. Em pauta, as Relações Raciais e as artimanhas da Raça e do Racismo.

Mediado pela supervisora Hélia Silva, a abertura do evento foi feito pela diretora da instituição, Senhorinha Andrade, que versou sobre a importância das relações sociais a partir de previsibilidade na legislação educacional vigente, considerando a sua significância em face da realidade social brasileira e manguense, em particular, marcada pela diversidade étnica.

O evento, que teve a presença de educandos do turno vespertino, tanto do ensino fundamental como médio, contou também com a presença dos alunos pesquisadores do projeto de Iniciação Científica: Africanidades desenvolvido pela E.E. Ministro Petrônio Portela. Foi uma oportunidade para se apresentar o referido projeto de iniciação científica promovido pela primeira vez em Minas Gerais com educandos do ensino médio e que tem como objetivo investigar as identidades de duas comunidades quilombolas e relacioná-las as dinâmicas desenvolvidas pela Escola, bem como foi apresentado também o projeto "Indicadores da Qualidade da Educação: Relações raciais", a ser desenvolvido em 2018. Nos mais, foi também um significativo momento de intercâmbio entre as duas maiores Escolas estaduais do município.

Em sua fala, o Prof. Mestre Paulo Robério F. Silva apresentou o panorama histórico de construção das ideias de raça e racismo ao longo dos últimos cinco séculos. Mesmo que ainda de forma não-científica as ideias relacionadas à raça e ao racismo no Brasil são implantadas com a instituição dos processos colonialistas desenvolvidos a partir da primeira metade do século XVI. A hierarquia entre o colonizador (dominador) de origem europeia e as populações nativas e em seguida as de origem africana e mestiça (dominados), como já vai se caracterizando no primeiro século de ocupação colonial, resulta na instituição de um imaginário que separa os brancos europeus, numa pseudo-condição de superiores hierarquicamente e o restante da população, subalternizada e inferiorizada em todos os seus aspectos.

No século XVIII, a ciência, principalmente depois da classificação das espécies animais feita pelo naturalista Carl Linné em 1735, com a publicação do livro Systema Naturae, ratifica a hierarquização das raças e estabelece a verdade científica como justificativa para separar os seres humanos em civilizados ou não, em suas diferentes gradações. Já no século XIX, tanto o ideal de branqueamento da sociedade brasileira, doutrina instituída pela elite nacional a partir da independência do Brasil em 1822, como o desenvolvimento de teorias científicas, a exemplo da antropometria e da osteometria, ramos do conhecimento utilizados para medir as proporções do corpo e dos ossos, visando identificar, sobretudo, a propensão ao crime, contribuíram para acentuar ainda mais a distinção entre brancos e não-brancos, fortalecendo com isso o estado violento de desigualdade social.

Mesmo com a tentativa de Gilberto Freyre, antropólogo pernambucano, de “amenizar” os efeitos desta hierarquia social com a sua defesa de que no Brasil se processou e processa uma “democracia racial”, tese apresentada no livro Casa Grande & Senzala, publicado em 1933, as distâncias entre brancos e não-brancos não arrefeceram. Ao contrário, têm se tornado cada vez mais expressivas e violentas.

Como resultado, o país chega ao século XXI divido entre aqueles que percebem, em linhas gerais, que os problemas de raça e racismo não se referem necessariamente à “cor da pele”, mas a desigualdade social. Muitos se apóiam, inclusive, em uma ideia esdrúxula de que no Brasil não há racismo, como defendem Ali Kamel, diretor de jornalismo da Rede Globo, no livro Não Somos Racistas e o geógrafo da USP, Demétrio Magnoli no livro Uma Gota de Sangue. Por outro lado, há aqueles que entendem que as questões de raça e de racismo têm construção histórica e que tem resultado na produção de uma sociedade extremamente desigual, em que milhões de brasileiros são violentados em seus direitos para beneficiar uma pequena parcela da sociedade que se arvora elite.

O tema, como se pode perceber nesta breve reflexão considerando os elementos históricos, é carregado de nuances caracterizando, com isso, a sua complexidade que, seguramente, vai para além dos aspectos científicos, perpassando elementos morais e de relação de poder, entre tantos outros. Nisto se assenta a manifestação do racismo como elemento constituidor da sociedade brasileira, construída, inclusive em nossos dias, em bases escravistas.

Desse modo, seria profícuo perceber alguns aspectos da natureza do racismo:

a) Seu lugar privilegiado é o imaginário.
b) Se justifica na exata proporção de produção de privilégios para o racista e de exclusão para as vítimas.
c) Se materializa na apropriação dos recursos escassos, condição que acentua a desigualdade social.
d) Se perpetua num moralismo (ou pseudo-moralismo) arcaico, conservador e que não aceita as transformações sociais em busca de uma sociedade para todos, indistintamente.

No mais, uma longa jornada ainda nos separa do ideal africano do ubuntu: só sou porque somos nós. E esta longa jornada, feita de sonhos, suor, sangue e muita garra começaria em cada movimento que nos conduza, mesmo que ainda timidamente, ao sonho de liberdade para todos, indistintamente.


* Mestre em Ciências Sociais pela PUC Minas; Historiador; Especialista em História e Cultura Afrobrasileira pela PUC Minas; Gestão Escolar; e Qualidade da Educação Básica pelo EDUCOAS (OEA). Autor dos livros: Manga – encontro com a modernidade e Educação para a diversidade (no prelo). Professor das Escolas Estaduais: Ministro Petrônio Portela e Presidente Olegário Maciel.

Galeria de imagens:
















sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Manga presente na formação no Programa de Iniciação Científica no Ensino Médio

A E.E. Ministro Petrônio Portela, localizada no bairro Tamuá em Manga foi uma das 2 contempladas na SRE/Januária, formada por 19 municípios, com o projeto de Iniciação Científica voltado pra educandos do Ensino Médio. No Estado foram escolhidos 94 projetos para a linha de pesquisa sobre o tema afro do Núcleo de Pesquisas e Estudos Africanos, Afro-brasileiros e da Diáspora (UBUNTU/Nupeaas). O projeto de autoria do Prof. Mestre Paulo Robério F. Silva, AFRICANIDADES: reinvenção da África nas comunidades de Espinho e Malhadinha em Manga, MG na perspectiva do contato com a Escola, visa fazer um estudo de identidades das comunidades quilombolas em relação a Escola. Nos dias 8, 9 e 10 houve no Othon Palace Hotel em Belo Horizonte uma importante capacitação destinada a orientadores de pesquisa e técnicos das Superintendências Regionais de Ensino.   



Educadores participam de formação do Programa Iniciação Cientifica no Ensino Médio

São mais de 120 professores que desenvolveram projetos de iniciação cientifica em suas escolas nos eixos Ubuntu/Nupeaas e TICS

Professores da rede estadual de Minas Gerais que tiveram projetos selecionados para participar do Programa Iniciação Cientifica no Ensino Médio, iniciativa da Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Educação (SEE), estão reunidos em Belo Horizonte para participar de uma formação. Durante três dias, será discutida a metodologia que deverá ser aplicada nas escolas na execução das iniciativas. São educadores de 94 escolas que tiveram seus projetos selecionados para integrar o eixo Núcleos de Pesquisas e Estudos Africanos, Afro-Brasileiros e da Diáspora (Ubuntu/Nupeaas) e 33 professores de escolas que tiveram projetos selecionados para participar do eixo Territórios de Iniciação Cientifica (TICS).

“Esses dois grandes eixos de iniciação cientifica dentro do Ensino Médio representam um investimento importante para o jovem e educadores de nossas escolas. É hora de estarmos juntos em busca de uma educação de qualidade e que dê visibilidade ao protagonismo dos estudantes e dos professores”, destacou a subsecretária de Desenvolvimento da Educação Básica, Augusta Mendonça, durante a abertura do Encontro.

O Projeto Iniciação Científica no Ensino Médio tem por finalidade viabilizar e apoiar a atividade de pesquisa e investigação científica em escolas da Rede Estadual de Ensino Médio de Minas Gerais, para estudantes, e conceder extensão de carga-horária a professores do Ensino Médio, para que desenvolvam os projetos de pesquisa selecionados. A ideia é incentivar, apoiar, valorizar e dar visibilidade à produção e compartilhamento de conhecimentos e saberes, oportunizando aos estudantes e professores a identificação de problemas, da escola ou da comunidade, e a construção coletiva de soluções para resolvê-los ou minimizá-los.

“Nós queremos fazer uma ação afirmativa curricular. Instituindo a pesquisa que olhe para as nossas comunidades, que pense os nossos sujeitos e que dialogue com as diferentes identidades que nós temos no ambiente escolar. Mais do que isso, nós estamos instituindo a pesquisa na educação básica para dizer que vamos reconstruir a democracia no nosso país”, ressaltou a secretária de Estado de Educação, Macaé Evaristo.

Ubuntu/Nupeaas

O Ubuntu/Nupeaas é uma ação da campanha da Afroconsciencia. A Superintendente de Modalidade e Temáticas Especiais de Ensino, Iara Pires Viana, destaca o perfil dos professores que irão atuar na iniciativa. “Os professores que aqui estão, em sua maioria, possuem pós-graduação e investigam junto com o estudante. O protagonismo juvenil é algo que está posto para o Ubuntu/Nupeaas”.

Durante os três dias, os educadores irão participar de uma formação organizada pela ONG Ação Educativa, que é uma parceira da SEE. Será utilizada uma metodologia que utiliza indicadores de qualidade para educação das relações étnico-raciais, a qual poderá ser apropriada pelos professores para aplicar na escola junto ao projeto. “É uma metodologia interessante, porque ela nos dará a possibilidade de monitorar a aplicabilidade da lei 10.639 nas unidades escolares e a participação das comunidades nos projetos”, afirma Iara.

Ela acredita que a iniciativa deverá impactar mais de 13 mil jovens. “As 94 escolas são os núcleos instalados. São 12 estudantes que se tornam jovens pesquisadores e cada um no processo do projeto irá agregar alunos de outras escolas também. Diretamente, vamos atingir cerca de dois mil estudantes, mas, indiretamente, serão mais de 13 mil”, conclui.

A partir do próximo ano, a professora de Língua Portuguesa, Amanda Carvalho, irá trabalhar com seus alunos o projeto Furtacor. “Vamos pesquisar onde está o negro na região, quais os lugares que ele ocupa, quais as condições oferecidas para começar a entender as oportunidades que estão sendo dadas para, a partir daí, começar um trabalho de conscientização. O resultado final seria a publicação de um livro que registrasse tudo isso”, conta Amanda.



Territórios de Iniciação Cientifica

Os 33 professores que inscreveram um problema de pesquisa ou um anteprojeto terão 10 meses para transformar a pergunta apresentada em uma resposta compatível com os anseios da comunidade. A superintendente de Desenvolvimento do Ensino Médio da SEE, Cecília Resende, destaca o protagonismo dos educadores que tiveram seus projetos escolhidos para participar da iniciativa. “A pesquisa não é uma prática na educação básica. Então, temos aqui 33 heróis que ousaram começar a ação efetiva de pesquisa com um grupo de estudantes. Nesse Encontro, a ideia é que a gente discuta o que é a pesquisa como principio educativo, como utilizá-la para ensinar e para aprender e o que significa fazer pesquisa aplicada àquela comunidade escolar”, pontuou.

Alexandre Ribeiro da Mota é professor de Biologia na Escola Estadual Vigário Torres, em Unaí. O educador escreveu um projeto que pretende fazer um diagnóstico do Córrego Cana Brava e conta o que o motivou a participar na iniciativa e quais os desafios encontrados. “Acabei de concluir um mestrado e fiquei inspirado quando vi essa iniciativa, que é pioneira no Estado, por isso resolvi escrever o projeto. Na escola, percebi que os alunos não têm a concepção do que é a iniciação cientifica e isso será um desafio pra mim. Vou tentar mostrar para eles as etapas que uma pesquisa cientifica deve ter. Nesta formação, pretendo encontrar um norte para conduzir os alunos durante o projeto”, conta.

Campanha Afroconsciência

A iniciativa promovida pela SEE tem o objetivo de fomentar, por meio de diferentes iniciativas, ações nas unidades escolares para a superação do preconceito racial, na busca pelo reconhecimento e valorização da história e da cultura dos africanos na formação da sociedade brasileira, além de iniciativas que enfrentem o racismo e promovam a igualdade racial no âmbito educacional no Estado.

A base da Campanha é a Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que tornou obrigatório o ensino de história e cultura afrobrasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares no Brasil. De acordo com o texto, os estudos de história e cultura afro-brasileira devem ser ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, de forma a resgatar a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política brasileira. A implementação da Lei 10.639 significa uma ruptura profunda com um tipo de postura pedagógica que não reconhece as diferenças resultantes do processo de formação nacional brasileiro. Outra mudança ocorrida a partir da aprovação dessa Lei foi a inclusão, no calendário escolar, do Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro.

domingo, 27 de agosto de 2017

CONHECIMENTO E DISCIPLINA FORAM TEMAS DE PALESTRA DO PROF. MESTRE PAULO ROBÉRIO*

O tema indisciplina em Escolas, sobretudo as públicas, tem ganhado espaço de destaque nos debates referentes aos desafios da educação nos últimos anos. Trata-se, efetivamente, de uma discussão de difícil encaminhamento, sobretudo, em fase da complexidade de causas e efeitos relacionados. Como possibilidade de aproximação reflexiva, o Prof. Mestre Paulo Robério F. Silva realizou na E.E. Ministro Petrônio Portela, a convite do Grêmio Estudantil daquela instituição e de sua direção uma palestra no último dia 5 de agosto de 2017 com objetivo de açular algumas questões relacionadas ao tema.

Como mediação da reflexão foi proposta inicialmente a afirmativa de que “a centralidade do conhecimento no fazer escolar é o elemento orientador dos processos disciplinares”, ou seja, a disciplina escolar não escaparia aos determinismos da efetivação do conhecimento escolar no ambiente de ensino e de aprendizagem, razão da justificativa da função social da Escola. O conhecimento, neste caso específico, se refere à transformação, grosso modo, da informação em algo efetivamente útil para os sujeitos envolvidos em sua produção e (re)significação.   

Como mostra Saviani (2008), o conhecimento se refere ao novo e se apóia na estrutura cognitiva já existente, ou seja, nas experiências do educando. Ao se identificar as deficiências em relação a dado saber dos alunos (e dos Professores), produzir, por meio do Professor, novas aprendizagens significativas (construção de novos sentidos) a partir dos conhecimentos já existente. 

Ainda segundo sua reflexão, a materialização do conhecimento traria certos benefícios:
1) A possibilidade da troca de saberes, de professores e alunos, em seus diferentes níveis de compreensão, tanto de experiência, como de conhecimento.
2) A preocupação em atuar em questões no âmbito social, verificando conhecimentos que precisam ser alcançados, não apenas apresentando problemas, mas problematizando questões e atuando nas necessidades que elas geram.
3) Articular o conhecimento apreendido ao cotidiano do aluno, permitindo a reflexão e consciência de si e do mundo, tornando-os ‘elementos ativos de transformação social’.
4) Permitir aos alunos, a capacidade de ‘expressarem uma compreensão da prática em termos tão elaborados quanto era possível ao professor. (SAVIANI, 2008).

Disciplina, de outra forma, pode ser apreendida, também de uma forma imediata, com os processos educativos (no âmbito da escola) orientado para determinados fins. Esta aproximação, ainda simplória, diga-se, seria útil, em dada perspectiva, para se superar o reducionismo de pensar a indisciplina apenas com resultado da incapacidade ou impossibilidade dos sujeitos educandos à socialização em ambientes de diversidade.

Como possibilidade de se ampliar o arcabouço reflexivo, sugere-se que os fins da Escola (pública), ou seja, a realização de sua função social, se daria, numa perspectiva metodológica, na efetivação da Pedagogia Histórico-Crítica. Esta se realiza mediante o desenvolvimento de 5 momentos (independentes, intercalados e dialéticos):

1) Prática social inicial;
2) Problematização;
3) Instrumentalização;
4) Catarse;
5) Retorno à prática social.

No dizer de Saviani (2008, p. 58),

“[...] a prática social referida no ponto de partida (primeiro passo) e no ponto de chegada (quinto passo) é e não é a mesma. É a mesma, uma vez que é ela própria que constitui ao mesmo tempo o suporte e o contexto, o pressuposto e o alvo, o fundamento e a finalidade da prática pedagógica. E não é a mesma, se considerarmos que o modo de nos situarmos em seu interior se alterou qualitativamente pela mediação da ação pedagógica; e já que somos, enquanto agentes sociais, elementos objetivamente constitutivos da prática social, é lícito concluir que a própria prática se alterou qualitativamente.”

A partir desta abordagem inicial, foi possível então sugerir um conceito aproximado do que vem a ser educação escolar. Seria, de certo modo, os processos de socialização (ensino) e apreensão (aprendizagem) de saberes (informação transformada em conhecimento) úteis e necessários à sociedade.

Conforme Saviani e Duarte (2010), a educação é um processo intencional de transformação da realidade por meio da produção de saberes.

A educação revelava-se impossível na medida em que fossem considerados apenas os elementos que caracterizam a estrutura do homem em seu aspecto empírico. Ou seja: enquanto ser situado, determinado pelas condições do meio natural e cultural, a educação resultava impossível.
No entanto, a análise do aspecto pessoal, isto é, da liberdade, mostrava o homem como um ser que, embora situado, se revelava capaz de intervir pessoalmente na situação para aceitar, rejeitar ou transformar. Enquanto ser livre, ele mostrava-se capaz de optar e tomar decisões. Esse aspecto já permitia responder positivamente à questão da possibilidade da educação. Se o homem é livre e capaz de intervir na situação, então ele pode intervir na vida das novas gerações para educá-las. (SAVIANI; DUARTE, 2010, p. 422).

Como desdobramento, tomou-se a Escola moderna como referência. Esta Escola, além de necessariamente reproduzir os elementos da ordem dominante, também é lócus que fomenta a prática transformadora da própria sociedade, estando aí, numa perspectiva marxista, a sua contraditoriedade.

Para Saviani (2008) a educação parte de uma condição de desigualdade (Escola moderna) para uma condição de igualdade no ponto de chegada.

Para justificar o seu caráter revolucionário, a Escola deve garantir ao educando o acesso ao conhecimento científico historicamente acumulado, no sentido de que os excluídos possam lutar contra o estado de exploração, pois “o dominado não se liberta se ele não vier a dominar aquilo que os dominantes dominam. Então, dominar o que os dominantes dominam é condição de libertação” (SAVIANI, 2012, p. 55).

Neste sentido, o conhecimento científico (conteúdo) é determinante. Por meio dele é possível superar o senso comum, condição que leva os alunos à compreensão crítica da realidade que se apresenta por detrás da aparência dos fenômenos cotidianos.

A Escola seria, enfim, instituição inevitável nas necessidades evidentes de transformação da realidade. Ainda apoiando-se em Karl Marx, foi possível refletir sobre as condições determinantes de transformação da realidade, ou seja, a existência de condições materiais e teóricas que permitam a emergência daquilo que efetivamente se deseja.

Tal movimento dinamiza-se na práxis, que seria, grosso modo, a produção humana da existência. Como mostra Saviani (2012), seria espontaneísmo a prática sem teoria, que resultado no fazer pelo fazer. De outra forma, o idealismo se manifesta quando a teoria impera sem a prática. “A teoria dá sentido à prática e esta última se torna fundamento e critério de verdade da primeira.” (SAVIANI, 2012, p. 61). Seriam – teoria e prática indissociáveis.

[...] o movimento global do conhecimento compreende dois momentos. Parte-se do empírico, isto é, do objeto na forma como se apresenta à observação imediata, tal como é figurado na intuição. Nesse momento inicial, o objeto é captado numa visão sincrética, caótica, isto é, não se tem clareza do modo como ele está constituído. Aparece, pois, sob a forma de um todo confuso, portanto, como um problema que precisa ser resolvido. Partindo dessa representação primeira do objeto, chega-se por meio da análise aos conceitos, às abstrações, às determinações mais simples. Uma vez atingido esse ponto, faz-se necessário percorrer o caminho inverso (segundo momento) chegando pela via da síntese, de novo ao objeto, agora entendido não mais como a representação caótica de um todo, mas como uma rica totalidade de determinações e de relações numerosas (SAVIANI, 2012, p. 61-62).

Por fim, ao se aproximar, conhecimento e disciplina, sempre no contraponto à generalização da indisciplina que, como dito alhures, tem ocupado um lugar de destaque dos sérios problemas que são enfrentados diuturnamente pela Escola, visualizou-se alguns caminhos possíveis quando o tema é tratado em sua relação com os saberes produzidos ao longo dos tempos pelo homem e transformado em saberes escolares:

- A concepção pedagógica é o elemento norteador.

- A centralidade do “conhecimento” científico (com as suas implicâncias morais) é o que determina o “fazer escolar”.

- A democracia é substrato para o comprometimento de todos nos processos de transformação da realidade mediante determinados fins.

- As condições materiais da Escola interferem diretamente nos processos a serem desenvolvidos.

- A educação familiar e a educação social são balizares na produção de um ambiente harmonioso de convivência social na Escola.

- O número de educandos por sala de aula interfere substancialmente nos processos a serem desenvolvidos.

Como provocação, no sentido de aproximar a discussão do avanço da Escola neoliberal, foi sugerida a seguinte reflexão em relação a fatídica pedagogia do “aprender a aprender”:

O primeiro desses princípios é o de que aprender sozinho é melhor do que aprender com outras pessoas. O segundo é o de que a tarefa da educação escolar não é a de transmissão do conhecimento socialmente existente, mas a de levar o aluno a adquirir um método de aquisição (ou construção) de conhecimentos. O terceiro princípio é o de que toda atividade educativa deve atender aos e ser dirigida pelos interesses e necessidades dos alunos. O quarto princípio é o de que a educação escolar deve levar o aluno ‘aprender a aprender’, pois somente assim esse aluno estará em condições de se adaptar constantemente às exigências da sociedade contemporânea, a qual seria uma sociedade marcada por um intenso ritmo das mudanças. (DUARTE, 2008, p. 215).

Referências:

DUARTE, Newton. A formação humana na perspectiva histórico-ontológica. In: SAVIANI, Dermeval; DUARTE, Newton (Org.). Pedagogia histórico-crítica e luta de classes na educação escolar. São Paulo: Autores Associados, 2012. p. 13-35.

DUARTE, Newton.  Por que é necessário uma análise crítica marxista do construtivismo? In: LOMBARDI, José C.; SAVIANI, Dermeval (Org.). Marxismo e educação: debates contemporâneos. Campinas: Autores Associados, 2008. p. 203-221.

SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia. Campinas, SP: Autores Associados, 2008.

SAVIANI, Dermeval.; Duarte, Newton. A formação humana na perspectiva histórico-ontológica. Revista Brasileira de Educação, v. 15, p. 422-433, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v15n45/02>. Acesso em 03 ago. 2017.

* Mestre em Sociologia, Antropologia e Ciência Política pela PUC Minas; Historiador;

Especialista em História e Cultura Afro-brasileira pela PUC Minas; Gestão Escolar; e Qualidade da Educação Básica pelo EDUCOAS (OEA). Autor dos livros: Manga – encontro com a modernidade e Educação para a diversidade (no prelo).








segunda-feira, 21 de novembro de 2016

POR UMA PEDAGOGIA DA DIVERSIDADE: Lançamento do 1º capítulo do novo livro do Prof. Mestre Paulo Robério

Discutir a Escola por meio de temas que sejam realmente pertinentes à Escola pública. Este foi o eixo que norteou mais um importante evento realizado neste sábado, 19 de novembro de 2016, na E.E. Ministro Petrônio Portela. A palestra realizada pelo Prof. Mestre Paulo Robério F. Silva, seguida de uma mesa redonda, teve como objetivos: lançar o 1º capítulo do seu novo livro, bem como encerrar o ciclo de palestras promovidos este ano naquele estabelecimento de ensino.

Com o tema: “O que é educação”, título do 1º capítulo do livro Educação para a diversidade (no prelo), a palestra do Prof. Mestre Paulo Robério visou trazer algumas reflexões quanto à necessidade de se construir uma pedagogia da diversidade. Considerando que a Diversidade significa o “mito” fundador da sociedade brasileira, embora este mito ainda não seja reconhecido e tomado como principal referência para as necessárias utopias que dariam sentido àquilo que somos e, em consequência, o que visamos ser, a discussão foi organizada a partir de alguns pontos: 1) a necessidade de se apreender a educação tanto em sua perspectiva ontológica como histórica; 2) a educação como algo inevitável ao ser social; 3) a Escola como institucionalização da educação; 4) a Escola construída no Brasil nestes 500 anos; 5) e a necessidade de uma pedagogia da diversidade para se superar o dualismo da Escola brasileira, caracterizado pela promoção de privilégios para minorias e exclusão sistemática para a grande maioria.

Para além destas abordagens, durante a mesa redonda em que participaram como convidados a Supervisora da E.E. Presidente Olegário Maciel, Hélia Silva Alves e os Professores: Hadson Neri de Almeida e Luciano Oliveira, o primeiro representando o Olegário e o segundo a E.E. Ministro Petrônio Portela, aprofundou-se a reflexão sobre alguns temas, como a Escola dualista, quando foi possível perceber este fenômeno em duas dimensões: a) internamente, muitas Escolas ainda se organizariam separando em turmas alunos de origens sociais distintas, o que resulta em atenção diferenciada quando aos processos de ensino; b) em termos institucionais, verifica-se a cisão tanto na disponibilização de recursos, em que algumas Escola seriam privilegiadas, bem como na diferença da qualidade de ensino que se apresenta entre as Escolas públicas e algumas Escolas privadas. Também se enfatizou a falácia do mérito, reproduzida por uma perspectiva capitalista de Escola, que esconde em suas entranhas a necessidade premente de a Escola pública gerar oportunidades para todos, indistintamente.   

Em relação a estes e outros problemas, que podem ser tomados como substratos dos diferentes modelos de Escola que por aqui se desenvolveram e se desenvolve, partiu-se da constatação de que as ordens sócio-político-econômicas que organizaram e organizam a sociedade brasileira, a saber: o escravismo (ainda em voga), o capitalismo, e o cristianismo, têm sido os principais empecilhos para se construir uma ordem social dominante fundada na Diversidade.

A Escola pública teria um papel central na consubstanciação de uma Escola que fosse efetivamente capaz de superar esta realidade que, como se sabe, resultou em uma importante e substancial contribuição na realização de uma das sociedades mais desiguais e violentas do mundo. Seria por meio de uma pedagogia da diversidade (transformadora, revolucionária, universal e fundada no conhecimento), que a sociedade construiria novas bases materiais e teóricas que resultariam na apropriação por todos, indistintamente, das benesses produzidas pela própria sociedade, ao contrário do que vem se realizando nestes 500 anos, quando estas riquezas são concentradas em minorias, herdeiras, grosso modo, da Casa Grande.

A Escola, neste caso, precisaria se (re)inventar. Como lócus privilegiado do conhecimento, a Escola pública ofereceria à sociedade uma Formação Humana Integral, suplantando definitivamente a pedagogia simplória, fragmentada, precária e subserviente ao capitalismo, em favor de uma pedagogia da omnilateralidade, ou seja, das possibilidades concretas de os educandos se apropriariam dos saberes significativos produzidos pela humanidade ao longo da história, e por meio desta apropriação, em diálogo com suas próprias experiências, se construir novos sentidos e novas possibilidades de estar no mundo, a partir de suas potencialidades, criatividades e da solidariedade.

Galeria de imagens:
















quarta-feira, 2 de novembro de 2016

"AULA COLETIVA" SOBRE PEC 241 (55)

As Escolas Estaduais Presidente Olegário Maciel e Ministro Petrônio Portela realizaram nesta segunda (31) e terça (01), respectivamente, aulas coletivas com educandos do Ensino Fundamental (séries finais) e Ensino Médio como objetivo de discutir a PEC 241 (55) que tramita no Congresso Nacional. O tema é expressivamente relevante, sobretudo, porque irá congelar por 20 anos os investimentos públicos. Isto afetará diretamente a educação pública; um bem inalienável da sociedade brasileira.

Na E.E. Presidente Olegário Maciel a “aula coletiva” foi ministrada pelo Prof. Mestre Paulo Robério (História) e Prof. Gilberto (Filosofia). Já na E.E. Ministro Petrônio Portela o evento foi realizado também pelo Prof. Mestre Paulo Robério e contou com a expressiva colaboração do Prof. Jean (Geografia).

Nos dois eventos se dimensionou a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241 – no Senado Federal a mesma PEC tramita como 55 – em relação à Constituição Federal de 1988. Esta Constituição, chamada de “constituição cidadã” garantiu o acesso universal aos serviços públicos de caráter social, como educação, saúde, habitação, assistência social, infraestrutura, e outros, a todos os brasileiros indistintamente. A PEC 241 (55) visa desconstruir tais conquistas, pois, ao congelar os investimentos públicos por 20 anos desconsidera tanto a necessidade de novos investimentos devido ao crescimento absoluto da população, como a demanda, cada vez mais crescente, por serviços públicos de qualidade.

Do mesmo, ao não restringir os limites gastos com os pagamentos das dívidas interna e externa – o montante supera os R$ 3 trilhões – e ao criar um novo mecanismo de endividamento público por meio das Empresas Públicas não dependentes, a proposta da PEC 241 (55) significaria na prática a penalização, com um severo processo de empobrecimento, não apenas das famílias mais pobres, mas também da classe média, em detrimento das famílias realmente ricas do país – cerca de 20 mil – que continuarão sendo abastecidas com dinheiro público, pois são elas as principais beneficiadas como o endividamento interno. Atualmente mais de 42% de tudo que o país arrecada com os tributos vai para o pagamento destas dívidas.

Inúmeras questões foram levantadas por alunos e Professores presentes ao evento. Entre outras preocupações demonstradas se enfatizou os sérios e irreversíveis danos ao futuro desta geração e das próximas que precisam de uma educação pública de qualidade, condição para se viver plenamente a cidadania. Neste caso, com o congelamento dos investimentos públicos o futuro, tanto quanto ao acesso ao ensino superior, quanto a uma Escola pública que promova uma formação humana integral, passa a ser incerto e muito mais dificultoso para estas famílias.

O Prof. Mestre Paulo Robério F. Silva enfatizou, entre outras coisas, a importância da tomada de consciência sobre a realidade brasileira por parte dos educandos e toda a sociedade, sendo esta a condição primária para um posicionamento coletivo consistente em busca da garantia dos direitos de todos os brasileiros em terem serviços públicos gratuitos, universais e de qualidade. Além disso, eventos como estes também revelariam o amadurecimento da sociedade em relação à importância de uma educação política. Tal condição só se manifestaria possível por meio de educação escolar/científica adequada e pela superação imediata da educação promovida pela televisão, que, ao se tornar hegemônica, tem provocado um violento estado de alienação político-social-econômica na sociedade brasileira.
  
E.E. Presidente Olegário Maciel









E.E. Ministro Petrônio Portela